Pesquisar este blog

sábado, fevereiro 28

JANELAS


Tenho quarenta janelasnas paredes do meu quarto.

Sem vidros nem bambinelas

posso ver através delaso mundo em que me reparto.

Por uma entra a luz do Sol

por outra a luz do luar,

por outra a luz das estrelasque andam no céu a rolar.

Por esta entra a Via Láctea

como um vapor de algodão,

por aquela a luz dos homens,

pela outra a escuridão.

Pela maior entra o espanto,

pela menor a certeza,

pela da frente a beleza

que inunda de canto a canto.

Pela quadrada entra a esperança

de quatro lados iguais,

quatro arestas, quatro vértices,

quatro pontos cardeais.

Pela redonda entra o sonho,

que as vigias são redondas,

e o sonho afaga e embala

à semelhança das ondas.

Por além entra a tristeza,

por aquela entra a saudade,e o desejo,

e a humildade,e o silêncio, e a surpresa,

e o amor dos homens, e o tédio,e o medo, e a melancolia,

e essa fome sem remédio

a que se chama poesia,

e a inocência, e a bondade,e a dor própria, e a dor alheia,

e a paixão que se incendeia,e a viuvez, e a piedade,e o grande pássaro branco,

e o grande pássaro negro que se olham obliquamente,arrepiados de medo,todos os risos

e choros,todas as fomes e sedes,

tudo alonga a sua sombranas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto,quem vos pudesse rasgar!

Com tanta janela aberta falta-me a luz e o ar.

António Gedeão

CHITA DIVAKARUNI


[...] depois que o leite talha,

será que todo o açúcar do mundo

pode torná-lo doce de novo?

Chitra Divakaruni,

MÁRIO QUINTANA


A laranja cortada ao meio,

úmida de amor,

anseia pela outra...

É assim, é bem assim que eu te desejo!

Mário Quintana