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quarta-feira, outubro 20





Deus...

põe teu olho amoroso sobre todos os que já tiveram um amor

e de alguma forma insana esperam a volta dele:

que os telefones toquem,

que as cartas finalmente cheguem …

**Caio Fernando Abreu**
"A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:

“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caia, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre."

(José Saramago)

segunda-feira, outubro 18

Isabelle Boulay Ma flle


Quanto tempo? Quanto tempo ainda?

Anos, dias, horas? Quanto?

Quando penso nisso, como me bate o coração.

Meu país é a vida.

Quanto tempo ainda? Quanto?

Eu amo tanto o tempo que me resta!

Quero rir, correr, chorar, falar, e ver e crer, e beber, dançar,

gritar, comer, nadar, saltar, desobedecer.

Eu não acabei, eu não acabei.

Voar, cantar, partir, voltar a partir, sofrer, amar.

Eu amo tanto o tempo que me resta!





Já não sei mais onde nasci, nem quando.

Sei que não foi há muito tempo e que meu país é a vida.

Eu também sei que meu pai dizia:

“O tempo é como o seu pão. Guarde um pouco para amanhã”.

Ainda tenho o pão. Ainda tenho tempo, mas, quanto?

Quero brincar ainda, quero rir às gargalhadas.

Quero chorar rios de lágrimas.

Quero beber barcos inteiros de vinho, de Bordeaux e da Itália.

Quero dançar, gritar, voar, nadar em todos os oceanos.

Eu não acabei, eu não acabei.

Quero cantar. Quero falar até ficar sem voz.

Eu amo tanto o tempo que me resta!





Quanto tempo? Quanto tempo ainda?

Anos, dias, horas, quanto?

Quero as histórias, as viagens.

Tenho tanta gente a ver, tantas imagens.

De crianças, de mulheres, de grandes homens,

de pequenos homens, engraçados, tristes, muito inteligentes, bobos.

Que engraçado, os bobos me rodeiam,

Como as folhas entre as rosas.





Quanto tempo? Quanto tempo ainda?

Anos, dias, horas, quanto?

Não me importo, meu amor.

Quando a orquestra parar, continuarei dançando.

Quando os aviões não mais voarem, eu voarei sozinho.

Quando o tempo parar, eu a amarei ainda.

Eu não sei onde, eu não sei como,

mas eu ainda a amarei.

Está bem?

Leu? Agora ouça na voz de Serge Reggiani, em francês. É lindo!


O correr da vida embrulha tudo,

a vida é assim: esquenta e esfria,

aperta e daí afrouxa,

sossega e depois desinquieta.

O que ela quer da gente é coragem.

Guimarães Rosa
... Eu sentei e Chorei.


"Conta a lenda que tudo que cai nas águas deste rio - as folhas, os insetos, as penas das aves - se transforma nas pedras do seu leito.
Ah, quem dera eu pudesse arrancar o coração do meu peito e atira-lo na correnteza, e então não haveria mais dor, nem saudade, nem lembranças.
Às margens do Rio Piedra eu me sentei e chorei.
O frio do inverno fez com que eu sentisse as lágrimas em meu rosto, e elas se misturaram com as águas geladas que correm diante de mim.
Em algum lugar este rio se junta com outro, depois com outro, até que - distante dos meus olhos e do meu coração - todas estas águas se misturam com o mar.
Que as minhas lágrimas corram assim para bem longe, para que meu amor nunca saiba que um dia chorei por ele. Que minhas lágrimas corram para bem longe, e então eu esquecerei do Rio Piedra, do mosteiro, da igreja nos Pirineus, da bruma, dos caminhos que percorremos juntos.
Eu esquecerei as estradas, as montanhas, e os campos de meus sonhos - sonhos que eram meus, e que eu não conhecia.''

[Paulo Coelho]

yannick noah, l'homme aux pied nus