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terça-feira, fevereiro 12


Eu sei, mas não devia

Se acostumar para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(MARINA COLASANTI)

segunda-feira, fevereiro 11

SAUDADE


Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

BALADA PARA UN LOCO


Balada Para Un Loco

(Astor Piazzola)

Recitado
Las tardecitas de Buenos Aires tienen ese que se yo,
viste?
Salis de tu casa por Arenales.
Lo de siempre: en la calle y en vos...
Cuando de repente, detras de un arbol,
me aparezco yo.
Mezcla rara de penultimo linyera
y de primer polizonte en el viaje a Venus:
medio melon en la cabeza,
las rayas de la camisa pintadas en la piel,
dos medias suelas clavadas en los pies
y una banderita de taxi libre levantada en cada mano.
Te reis!... Pero solo vos me ves:
Porque los maniquies me guiñan,
los semaforos me dan tres luces celestes
y las naranjas del frutero de la esquina
me tiran azahares.
Veni!, que asi, medio bailando y medio volando,
me saco el melon para saludarte,
te regalo una banderita y te digo...
Cantado
Ya se que estoy piantao, piantao, piantao...
No ves que va la luna rodando por Callao;
que un corso de astronautas y niños, con un vals,
me baila alrededor... Baila! Veni! Vola!
Yo se que estoy piantao, piantao, piantao...
Yo miro a Buenos Aires del nido de un gorrion;
y a vos te vi tan triste... Veni! Vola! Senti!...
el loco berretin que tengo para vos:
Loco! Loco! Loco!
Cuando anochezca en tu porteña soledad,
por la ribera de tu sabana vendre
con un poema y un trombon
a desvelarte el corazon.
Loco! Loco! Loco!
Como un acrobata demente saltare,
sobre el abismo de tu escote hasta sentir
que enloqueci tu corazon de libertad...
Ya vas a ver!
Recitado
Salgamos a volar, querida mia;
subite a mi ilusion super-sport,
y vamos a correr por las cornisas
con una golondrina en el motor!
De Vieytes nos aplauden: "Viva! Viva!",
los locos que inventaron el Amor;
y un angel y un soldado y una niña
nos dan un valsecito bailador.
Nos sale a saludar la gente linda...
Y loco —pero tuyo—, que se yo!;
provoco campanarios con la risa,
y al fin, te miro, y canto a media voz:
Cantado
Quereme asi, piantao, piantao, piantao...
Trepate a esa ternura de locos que hay en mi,
ponete esa peluca de alondras, y vola!
Vola conmigo ya! Veni, vola, veni!
Quereme asi, piantao, piantao, piantao...
Abrite los amores que vamos a intentar
la magica locura total de revivir...
Veni, vola, veni! Trai-lai-lai-larara!
Gritado
Viva! Viva! Viva!
Loca ella y loco yo...
Locos! Locos! Locos!
Loca ella y loco yo! (Male voice)

GOSTO DE MÚSICA


Há músicas que a gente ouve e gosta imediatamente. Sua beleza está no jardim de entrada. Ouvindo estas músicas a gente tem uma experiência imediata de comunhão: todos são igualmente comovidos. A música clássica é diferente. Sua beleza não se encontra no jardim de entrada mas num quarto fechado à chave. Quem não tem a chave não entra. A beleza da música clássica precisa ser aprendida paciente e disciplinadamente. Quem aprendeu tem a chave: entra no quarto e tem a experiência da beleza. Quem não aprendeu fica de fora e não percebe nada. Por isso a música clássica pode produzir uma dolorosa solidão.Da minha mae, eu acho, herdei o gosto pela palavra, o prazer em criar mundos pela fala. O mundo da minha mae se abre para fora, para uma comunhão fácil. Do meu pai recebi as chaves que abrem as portas que levam ao mundo da música. O mundo do meu pai se abre para dentro, onde se encontram a alegria e uma comunhão difícil que beira à solidão.
Que saudades sinto de você meu pai...

CÂNTIGO NEGRO

CÂNTIGO NEGRO
José Régio

‘Vem por aqui» — dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: «vem por aqui»!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.

Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.

Não, não vou por ai! Só vou por onde Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: «vem por aqui»?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, fdi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: <(vem por aqui»! A minha vida é um vendaval que se soltou. É uma onda que se alevantou. É um átomo a mais que se animou... Não sei por onde vou, Não sei para onde vou, - Sei que não vou por aí!