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sábado, abril 16



Paixão antiga é feito meia velha: até aquece os pés no frio mas já não empresta cor aos dias.


Além disso, só pode ser usada na mais plena solidão: ninguém deseja ostentar furos, bolinhas, fissuras e encardido pelas ruas.

E por que diabos não jogamos fora da memória paixões antigas que não deram em nada? Pelo mesmo motivo que guardamos as meias: apego.

Nos apegamos àquela meia fofa de flanela, cheia de coraçõezinhos, que compramos num mercado de pulgas de Paris ou que ganhamos de alguém especial num inverno colossal da mesma maneira que nos apegamos à idéia de sempre lembrar de determinada pessoa quando o mundo parece nevar ainda que se more nos trópicos e faça um calor de 40º para além da janela.

É chato não sentir nada. É chato não sentir nem saudade, a sensação de vazio aumenta.

Em geral, ama-se o dia em que a meia foi comprada ou ganhada, não a meia. Em geral, ama-se a historia de amor que se sonhou, o amor em si, e não a pessoa.

Mas nossas almas não são gavetas! Numa gaveta grande sempre cabe mais uma meia e outra e outra e outra.

Nossos corações até podem ser vagabundos e amar pessoas diferentes, amar muitas delas ao mesmo tempo e com a mesma intensidade, mas nossas almas só aceitam um convite por vez para dançar no baile do amor.

Quer dançar?

Então libere sua alma para a próxima festa, para o próximo vôo, para o próximo convite inesperado. Sacuda sua pele como um vestido e coloque-a ao sol. Paixão antiga tem cheiro de bolor em seda guardada e pensando bem, é bem mais inútil que uma meia velha flanelada.

By Mônica Montone
Lua, sol, vento, chuva... é difícil uma música de amor utilizar esses elementos e não cair no lugar comum, no piegas, no óbvio... não é o que acontece, ao que me parece, com a música "Se chovesse você", composição de Eliana Printes/Adonay Pereira/Eliakin Rufino e que foi gravada por Eliana Printes e Chico César. É uma música sinestésica, em que cada um desses elementos interage com a letra e a melodia de maneira a passar a quem escuta a sensação de estar acompanhando tais elementos, que terminam personificando um idílio da pessoa amada.




(Música em prosa)
MINHA VIDA...

Jorge Bichuetti



Esta pintura na parede

descasda pelo tempo,

viu e se fez vista

por olhares diferentes...



Uns a viram suave

na sua extrema-unção;

outros, a desenharam

rabiscos primevos

da linguagem perdida

dos amores ancestrais...



Ali, mora a minha vida;

vida que já se perdeu

e depois se reencontrou...



Vida: torcida na labuta

dos suores e dos amores,

entre as pedras cortantes

e as estrelas errantes;

só vida... Esta árdua solidão,

errância... um canto

de lamento... o encanto

do meus persistentes renascimentos...

sexta-feira, abril 15




céu rasgou-se espada afora

e verteu lágrimas,

muitas lágrimas,

Não sei se eram de tristeza ou indignação.

Também, não adianta perguntar,

que ninguém responde.

Pus minha canequinha do lado de fora da janela,

ela quase transbordou.

Estou rica: tenho uma caneca com lágrimas do céu.

Os vizinhos caçoam:

quem é que compra um punhado de chuva?"

(Flora Figueiredo)


terça-feira, abril 12




" Sem medo

cravo os dedos na vida

e nela estendo o coração

sem medo.

Enquanto as horas não cedem

sorrio , de medo e coragem."

Silvia Chueire



"Não é de amor que careço.

Sofro apenas

da memória de ter sido amada.

O que mais me dói,

porém,

é a condenação

de um verbo sem futuro.

AMAR."

Mia Couto



"a noite acolhe tão bem a dor

entre suas sombras ocultamos

qualquer coisa desamparada

qualquer coisa inevitavelmente lúcida."

Silvia Chueire

segunda-feira, abril 11


Ajuntei todas as pedras

que vieram sobre mim.

Levantei uma escada muito alta

e no alto subi.

Teci um tapete floreado

e no sonho me perdi.

Uma estrada,

um leito,

uma casa,

um companheiro.

Tudo de pedra.

Entre pedras

cresceu a minha poesia.

Minha vida…

Quebrando pedras

e plantando flores.

Entre pedras que me esmagavam

Levantei a pedra rude

dos meus versos.

Eterna CORA CORALINA

domingo, abril 10



Tua ausência cala o mundo. Só há silêncio debruçado nos caminhos. Nenhuma música, buzina ou voz.Não há flores, gemidos, mordidas na boca. Não há gargalhadas, trovões ou gritos_ apenas relâmpagos imaturos que acendem um céu sem lua, sem estrela, sem chuva, sem qualquer coisa que me tire a atenção da falta.Tua ausência cala o mundo, o mar, os ventos.Tua ausência desaba silenciosamente sobre meus dias, soterrando meu outono... Ela magoa demais o meu sossego.


(Tua ausência é essa substância densa.)

Tua ausência é tão presente que é pessoa... e me abraça.
Marla de Queiroz