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sexta-feira, outubro 15

Sinais de Fogo Preta Gil


"...menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva......mas depois de todas as tempestades e naufrágios o que fica de mim e em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro..."


[Caio Fernando Abreu falando de mim, para mim... (deixa eu pensar que sim)... ]



"É você quem sorri,

morde o lábio,

fala grosso,

conta histórias,

me tira do sério,

faz ares de palhaço,

pinta segredos,

ilumina o corredor por onde passo todos os dias."

**Caio Fernando de Abreu**



"Cada pedaço de mim


sabe o inferno que é ser sol em noites de chuva,

ser cor nos cinzas dos edifícios,

ser luz na escuridão das manhãs.

Cada todo de ti

sabe a delícia que é ser flor nas asas do vento,

ser cristal nos olhos das fadas,



ser azul no fundo do mar.



Cada suspiro de nós



sabe a angústia que é ser só um na multidão dos dias,



ser muito na pobreza da esquina,



ser ninguém na roda da vida.



Enquanto isso os relógios se vão,



e vêem aqueles que sabem



o que é apenas ser na ausência do nada".



**Clarice Lispector**

quinta-feira, outubro 14

Sábado foi caprichoso o beijo dado,



Capricho de varão, audaz e fino



Mas foi doce o capricho masculino



A este meu coração, lobinho alado.

Não é que creia, não creio,



Se inclinado sobre minhas mãos te senti divino



E me embriaguei,



Compreendo que este vinho não é para mim,



Mas jogo e roda o dado...

Eu sou a mulher que vive alerta,



Tu o tremendo varão que se desperta



E é uma torrente que se desvanece no rio

E mais se encrespa enquanto corre e poda.



Ah, resisto, mas me tens toda,



Tu, que nunca serás de todo meu.



**Alfonsina Storni**

"Mas resolvi não falar hoje em saudade,


nem dar a entender “saudade” por carinhos...

Senão me derramaria demais

e perderia o equilíbrio que é tão necessário

pelo menos para se dormir de noite."

**Clarice Lispector**


Deixa-me errar alguma vez,
porque também sou isso: incerta e dura,
e ansiosa de não te perder agora que entrevejo um horizonte.
Deixa-me errar e me compreende
porque se faço mal é por querer-te
desta maneira tola, e tonta, eternamente
recomeçando a cada dia como num descobrimento
dos teus territórios de carne e sonho,
dos teus desvãos de música ou vôo, teus sótãos e porões
e dessa escadaria de tua alma.
Deixa-me errar mas não me soltes
para que eu não me perca deste tênue fio de alegria
dos sustos do amor que se repetem
enquanto houver entre nós essa magia.

Lya Luft

(...)


resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto, esse eterno levantar-se depois de cada queda, essa busca de equilíbrio no fio da navalha, essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo infantil de ter pequenas coragens.
Vinicius de Moraes

terça-feira, outubro 12



"Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos,

coubera arrancar de seu coração a flecha farpada.

De chofre explicava-se para que eu nascera com mão dura,

e para que eu nascera sem nojo da dor.

Para que te servem essas unhas longas?

Para te arranhar de morte

e para arrancar os teus espinhos mortais,

responde o lobo do homem.

Para que te serve essa cruel boca de fome?

Para te morder e para soprar a fim

de que eu não te doa demais, meu amor,

já que tenho que te doer,

eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada.

Para que te servem essas mãos que ardem e prendem?

Para ficarmos de mãos dadas,

pois preciso tanto, tanto, tanto -

uivaram os lobos e olharam intimidados

as próprias garras antes de se aconchegarem

um no outro para amar e dormir. "

[Clarice Lispector]