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terça-feira, outubro 12



"Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos,

coubera arrancar de seu coração a flecha farpada.

De chofre explicava-se para que eu nascera com mão dura,

e para que eu nascera sem nojo da dor.

Para que te servem essas unhas longas?

Para te arranhar de morte

e para arrancar os teus espinhos mortais,

responde o lobo do homem.

Para que te serve essa cruel boca de fome?

Para te morder e para soprar a fim

de que eu não te doa demais, meu amor,

já que tenho que te doer,

eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada.

Para que te servem essas mãos que ardem e prendem?

Para ficarmos de mãos dadas,

pois preciso tanto, tanto, tanto -

uivaram os lobos e olharam intimidados

as próprias garras antes de se aconchegarem

um no outro para amar e dormir. "

[Clarice Lispector]

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