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sexta-feira, novembro 12

Não passam as dores, também não passam as alegrias. Tudo o que nos fez feliz ou infeliz serve pra montar o quebra-cabeça da nossa vida, um quebra-cabeça de cem mil peças. Aquela noite que você não conseguiu parar de chorar, aquele dia que você ficou caminhando sem saber para onde ir, aquele beijo cinematográfico que você recebeu, aquela visita surpresa que ela lhe fez, o parto do seu filho, a bronca do seu pai, a demissão injusta, o acidente que lhe deixou cicatrizes, tudo isso vai, aos pouquinhos, formando quem você é. Não há nenhuma peça que não se encaixe. Todas são aproveitáveis. Como são muitas, você pode esquecer de algumas, e a isso chamamos de "passou". Não passou. Está lá dentro, meio perdida, mas quando você menos esperar, ela será necessária para você completar o jogo e se enxergar por inteiro.


Martha Medeiros
" e haverá um tempo para amar e outro para encontrar as distâncias esquecidas. Sim. Alguma vez. Quando os rostos dos outros não me derem a medida exata da solidão. "


Alejandra Pizarnik

domingo, novembro 7


Que as borboletas sejam azuis. Que o sol vá sempre comigo no bolso. Que Tita nunca deixe de chorar lágrimas de chocolate ao cortar cebola. Que as pessoas tenham humores interessantes. Que eu nunca tenha medo de tirar com as mãos as ervas daninhas e pragas das hortas. Que eu siga duvidando. Que eu siga colorindo. Que eu siga aromatizando. Que eu saiba ferver água com perfeição. Que eu não tenha medo do amor. Que eu preserve o gosto pelas coisas mais simples do dia-a-dia. Que a poesia nunca morra dentro de mim, por mais que a esperança esteja por um fio. Que pequenos gestos façam, para sempre, toda a diferença. Que os meus medos não me consumam. Que os valores sempre se renovem. Que a essência nunca morra. Que eu siga gostando de sentir os meus pés tocando as nuvens e, por hora, o chão. Que eu seja sempre despida de protocolos. Que eu nunca deixe de cultivar o meu jardim. Que as minhas flores nunca murchem. Que eu nunca deixe de sentir paz ao olhar o horizonte. Que as músicas continuem sendo perfumadas. Que as crianças continuem sendo espontâneas. Que eu nunca deixe de transbordar ao ler Clarice Lispector transbordando. Que as estrelas sempre apareçam para mim. Que eu possa espalhar algum pozinho de pirlimplimplim por ai. Que eu consiga manter a espinha ereta. Que eu consiga erguer novamente os meus castelos. Que eu nunca deixe de sonhar. Que as amoras nunca me deixem.