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sábado, julho 10

Eu te ofereço

Um campo de girassóis

Para enfeitar sua viagem

o encontro dos olhos meus

Eu te ofereço

Um caminho

Rodeada de ipês floridos

Tapete de flores para te receber

Eu te ofereço

Troncos de árvores

Cobertos de orquídeas

Com beija-flores a sugar-lhe o mel

Eu te ofereço

A melodia da natureza


Cantada pelos pássaros


Tocada pelo som do rio descendo a serra


Eu te ofereço

O meu abraço


O meu carinho


O meu serenar

Te aguardo aqui

E com sua chegada

Eu sonho com um único ofertar seu

Eu quero de você a próxima dança

Que segredos guarda a sombra

Que esconde seu rosto de

jogo de cena e

o pano se abrir enfim

Tu não te mostras

Porque veio?

Se é tua sina iludir

Se sofreu, nada

Se amou, guardou para si

Mas encanta esse mistério

Que entre cortinas mantém

Atrai os sonhadores

Vira musa, prosa e verso

E ao cair da madrugada

Mostra a sombra ao reverso

Se apaga sem um gemido

Pois de dor não tem sofrido

Deixa apenas um encanto

Uma cor que sobressai

Na madrugada vazia

Fica a saudade

Você vai

(Almir Capthor


Vem sem receio: eu te recebo

Como um dom dos deuses do deserto Que decretaram minha trégua, e permitiram

Que o mel de teus olhos me invadisse. Quero que o meu amor te faça livre, Que meus dedos não te prendam

Mas contornem teu raro perfil

Como lábios tocam um anel sagrado. Quero que o meu amor te seja enfeite E conforto, porto de partida para a fundação

Do teu reino, em que a sombra

Seja abrigo e ilha.

Quero que o meu amor te seja leve Como se dançasse numa praia uma menina.

Lya Luft



Era quase sempre madrugada, quando trôpego, retornava adivinhando caminhos e estrelas. A bem da verdade, perdia-se, às vezes. Já batera em porta errada, dormira em banco de praça, acordara na calçada, abraçado ao cachorro do vizinho. Mas, quase sempre, chegava são e salvo. Subia as escadas, abria a porta sem ruído, tirava os sapatos, e entrava, pé ante pé, na casa adormecida. Em silêncio. Para não despertar a solidão.

Andréia Duarte
 


Encha o peito com mais de trezentos suspiros,quando estiver bem levinho,solte as amarrase flutue.

(Rita Apoena)





pode parecer promessa

mas eu sinto que você é a pessoa

mais parecida comigo

que eu conheço

só que do lado do avesso

pode ser que seja engano

bobagem ou ilusão

de ter você na minha

mas acho que com você eu me esqueço

e em seguida eu aconteço

por isso deixo aqui meu endereço

se você me procurar

eu apareço

se você me encontrar

te reconheço.

Alice Ruiz

 
 

Vem, serenidade!

Vem cobrir a longa

fadiga dos homens,

este antigo desejo de nunca ser feliz

a não ser pela dupla humidade das bocas.

Vem, serenidade!

faz com que os beijos cheguem à altura dos ombros

e com que os ombros subam à altura dos lábios,

faz com que os lábios cheguem à altura dos beijos.

Raul de Carvalho
 

O amor nos tira o sono, nos tira do sério, tira o tapete debaixo dos nossos pés, faz com que nos defrontemos com medos e fraquezas aparentemente superados, mas também com insuspeitada audácia e generosidade. E como habitualmente tem um fim - que é dor - complica a vida. Por outro lado, é um maravilhoso ladrão da nossa arrogância.


Quem nos quiser amar agora terá de vir com calma, terá de vir com jeito. Somos um território mais difícil de invadir, porque levantamos muros, inseguros de nossas forças disfarçamos a fragilidade com altas torres e ares imponentes.

A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranqüilidade, querer com mais doçura.

Às vezes é preciso recolher-se!

Lya Luft

Eu nunca sei quando as estórias acabam. Por isso sempre fico preso entre uma e outra, ou entre nenhuma e nenhuma outra; entre um recomeço sem fim e um fim sem término. Talvez por ser mais espectador, ou coadjuvante, do que protagonista da minha vida, tenha essa enfermidade de não dar conta de quando baixa o pano. As luzes apagam, o público sai, os colegas limpam a maquiagem e eu continuo lá: com a fala na cabeça, o texto decorado, aguardando a deixa. A deixa que nunca vem. Sempre tive medo das coisas e das pessoas. Um pavor e uma falta de fé. Talvez por isso eu tenha criado minha própria companhia teatral, onde sou diretor; contra-regra; atores e público.Enceno só para mim uma tragicomédia. A realidade me faz tão mal e me deixa tão fraco que fico, no fundo do palco, muitas vezes, a sussurrar o texto a mim mesmo. Às vezes não ouço. Quase sempre não ouço, porque sussurro baixo e minha voz é trêmula... O público não entende a peça, logo, não aplaude. Eu, furioso, demito a todos: ao autor; ao diretor; aos atores... Expulso o público do teatro e ateio fogo a tudo. E ali dentro fico eu, junto às cortinas e aos holofotes, incandescentes; queimando, queimando, queimando...


Alejandro da Costa Carriles
Sempre sei, realmente. Só o que eu quis, todo o tempo, e o que pelejei para achar, era uma só coisa - a inteira - cujo significado e vislumbrado dela eu vejo que sempre tive. A que era: que existe uma receita, norma dum caminho certo, estreito, de cada uma pessoa viver - e essa norma cada um tem - mas a gente mesmo, no comum, não sabe encontrar; como é que sozinho, por si, alguém ia poder encontrar e saber? Mas, esse norteado, tem. Se não, a vida de todos ficava sempre o confuso dessa doideira que é. E que: para cada dia, cada hora, só uma ação possível da gente é que consegue ser a certa.


João Guimarães Rosa

 
 

segunda-feira, julho 5



"E da próxima vez que a gente se encontrar,

vou pedir pro relógio do mundo dar uma descansadinha,

só pra esticar esse tempo de abraço que faz graça no meu peito"