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segunda-feira, outubro 12



A teia sem enredo é a minha ideia fixa,puro cristal, como os da neve,abstracto, tão claro como o mero abecedário onde as palavras falam, sem barulho."
António Franco Alexandre, in Aracne
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"Se eu te pudesse dizer o que nunca te direi, tu terias que entender aquilo que nem eu sei."
Fernando Pessoa
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Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!
Florbela Espanca




Existe um único antídoto para a falta de tempo. Um único.
Estar apaixonado.
Esquecer de si para inventar o desejo.
O desejo transforma-se no próprio tempo.
Tudo é adiado.

Fabrício Carpinejar

Amor vem de amor.
Vem de longe, vem no escuro,
brota que nem mato que dispensa cuidado
e cresce com a mais remota chuva.

- Guimarães Rosa

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade voltava
igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade

Quando te vi amei-te já muito antes.

Tornei a achar-te quando te encontrei.

Nasci pra ti antes de haver o mundo.

Não há cousa feliz ou hora alegre

Que eu tenha tido pela vida fora,

Que o não fôsse porque te previa,

Porque dormias nela tu futuro.

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E eu soube-o só depois, quando te vi,

E tive para mim melhor sentido,

E o meu passado foi como uma 'strada

Iluminada pela frente, quando

O carro com lanternas vira a curva

Do caminho e já a noite é tôda humana.

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Quando eu era pequena, sinto que eu

Amava-te já longe, mas de longe...

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Amor, diz qualquer cousa que eu te sinta!

-Compreendo-te tanto que não sinto,

Oh coração exterior ao meu!

Fatalidade, filha do destino

E das leis que há no fundo dêste mundo!

Que és tu a mim que eu compreenda ao ponto

De o sentir...?

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(Fernando Pessoa)