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sábado, junho 21

NÃO TE AMO MAIS


Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais…


Muitos atrubuem esse texto a Clarice Lispector, desconheço o verdadeiro autor.
Essa poesia é de uma genialidade única, leia agora de baixo para cima.

SENTIMENTO DE AMIGO

Tenho amigos que não sabemo quanto são meus amigos.

Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.


A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor.


Eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos,enquanto o amor tem intrínseco o ciúme,que não admite a rivalidade.


E eu poderia suportar, embora não sem dor,que tivessem morrido todos os meus amores,mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências…

A alguns deles não procuro,basta-me saber que eles existem.Esta mera condição me encorajaa seguir em frente pela vida.Mas, porque não os procuro com assiduidade,não posso lhes dizer o quanto gosto deles.Eles não iriam acreditar.Muitos deles estão lendo esta crônicae não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.

Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro,embora não declare e não os procure.E às vezes, quando os procuro,noto que eles não tem noção de como me são necessários.De como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital,porque eles fazem parte do mundo que eu,tremulamente construí,e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.


Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.Se todos eles morrerem, eu desabo!Por isso é que, sem que eles saibam,eu rezo pela vida deles.E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar.Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.


Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos,cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim,compartilhando daquele prazer…Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo,andando comigo, falando comigo, vivendo comigo,todos os meus amigos, e,principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!A gente não faz amigos, reconhece-os.

Vinícius de Moraes

quarta-feira, junho 18

FRENTE Á FRENTE


Pois então não me compreendeste? Não precisava... Não, não me fiz de palavras para isso.

Eu me fiz assim para ofertar fragmentos. Como restos de rosas decorosas. Com muita paciência, como quem se confirma, eu escolhi sílaba por sílaba, pétala por pétala, fui me escolhendo.

Então tu não sabes? As palavras são os limites dos sentimentos, sua conformação, suas medidas. Fala, e estás diluindo-te! Deus, que é Deus, um dia sentindo-se muito, quis esparramar-se e fez-se verbo. Imagina eu, então. Tu pensaste que eu ficaria calada para me decifrares? Eu não. Não iria ficar esperando Deus dar bom tempo. Primeiro, a gente faz. Depois, Deus abençoa.

Eu fiz. Fiz-me palavras, tornei-me posse de alguma coisa sagrada. Senti-me numinosa, possuída como as divindades, mas não era tempo de compreender. É que eu era mesmo emoção. Desguardada. Como as estrelas cadentes desguardadas, rasgando o céu em busca de rotas, eu era assim, sem palavras. Eu não tinha palavras, tinha fé, e a minha fé era viva. Era viva, porque rebentava na carne. Viva, porque era oferenda para a minha vulnerabilidade.

Eu sem palavras, desguardada. Mas não procurei palavras para curar-me da fragilidade, não foi para negá-la, não para escondê-la. Muito menos para explicá-la. Ao contrário, a minha fragilidade é que precisava curar-se de seu pudor. A minha fragilidade teve o despudor de mostrar-se, pulsando ofertada na incompreensível palavra Ser. Para falar-te, eu sei, é preciso muito cuidado, e ninguém sai ileso do que escreve, mas...

Eu quero falar com cuidado sobre o pudor...Sabes, o pudor, a vergonha, essas coisas de dois gumes, duas faces, elas têm duas bocas, uma boa e outra perversa. Guardam, mas guardam sufocando. Ferem as entrelinhas, cortam as linhas, sangram os sentidos. Compreenderias o pudor, mas, como quem se confirma, eu o neguei, neguei a vergonha e cometi ‘eu te amo’. Como restos de rosas decorosas. Foram as minhas primeiras palavras, eu me lembro. Começou com um balbucio, letras desgarradas salivando dentro da boca, era ainda bem pouco parecido com palavras, tinha mais gosto de assombração. Mas ‘eu te amo’ fez-me forte, alada. Depois foi ficando com gosto de ranço, depois virou fruta apodrecida no chão, que ninguém apanhou, nem comeu.

Vai servir de adubo orgânico ‘eu te amo’. ‘Eu te amo’ está puído, roído no papel, e todo mundo vê ‘eu te amo’ sem viço. ‘Eu te amo’ é uma lua doendo e está sem brilho, exposto nas bancas de revista junto à manchete do jornal: “marido mata mulher a facadas”. Está baldeado como água teimosa. ‘Eu te amo’ perdeu todos os dentes, está seco e fica bulindo no sereno, porque não tem para onde ir, nem cama, nem teto. Está machucado, ferido de silêncios, está mudo, privado das suas canções de ninar.

‘Eu te amo’ bem sente, a escuridão tem a cor do tato, mas não diz: meu corpo só existe onde o teu tateia (porque não pode dizer). Cometi um ‘Eu te amo’ que sabe: ninguém sai ileso do que ama.

Eu te amo não são mais palavras que me façam. Faço-me de outras. Como restos de rosas decorosas, como versos de poemas indecorosos: sílabas vermelhas/pétalas/pistilo.

Tu não compreendes poesia, nem pétalas, pétalas não são para se compreender. Tu não imaginas nada, além da compreensão, para fazer com pétalas? Ter cuidados... Não, talvez tu não tenhas sido feito para ter cuidados... Pois não importa se não me compreendeste, eu também não me fiz para ti. Fiz-me para as noites que aguardei, as noites, estas sim, que eu te guardei e tu guardaste para mim. Fiz-me para as noites dilatadas, varando meus dias enfermos de ausência com rajadas de estrelas fumegantes. Estrelas cadentes desguardadas. As noites tão minhas, porque tuas, que me afiaram afetos, que me alforriaram a carne, que me aferraram à vida.
Carmen Vasconcelos

O LADO ALEGRE DO AMOR QUE ACABOU

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Pensando em escrever sobre o começo do amor, lembrei uns versos de Eugênio Montale. Quando eu digo lembrei, quero dizer, eles vieram, os versos, e esta é a relação de maior prazer que tenho com a poesia: quando versos vêm por eles mesmos, por fragmentos, quando eles se escolhem, não eu, embora venham para atender uma necessidade minha. Aí a lembrança é só satisfação. Ah, eu falava dos versos de Montale. Não foi fácil achá-los hoje, preciso ler mais meu poeta. Enfim, encontrei-os. São do poema Götterdämmerung: “os inícios são sempre irreconhecíveis/ quando se constata alguma coisa é porque ela já/ está cravada como um alfinete”. O poema não fala de inícios de amor, mas penso que esses versos traduzem a obscuridade e confusão do começo da relação amorosa. Pelo menos me chegaram quando eu divagava sobre a floração do sentimento de amor, sobre os momentos nos quais, assaltados e sobressaltados por ebulições que nos tiram do eixo e não sabemos para onde vão nos levar, somos tomados pela insegurança. Digo com a palavra amor o que muita gente diz com outros nomes. É que não concebo o amor diferenciado, discriminado, dissecado. Nunca vi sentido em separar amor de paixão e muito menos em vê-los como sentimentos antagônicos. O que aqui chamo de amor é talvez o que outros chamem paixão ou entusiasmo ou encantamento. Ou feitiço. Ou vodu. Para mim, é amor. E amor, mesmo cortante, crava-o em nós um deus. Então, vamos a Eros, o começo. Eros, o “demônio poderoso”, regente daquele período no qual, sem pedir licença, uma pessoa toma posse do nosso pensamento. Estabelecemos não uma, mas duas relações: com o outro e com o sentimento do outro, esse que se volatiliza. Esse que nos inquieta: amamos. Somos amados? Nem deus sabe. Pudéssemos estar certos da força, da perenidade, da verdade do amor do outro, conheceríamos calmaria. Pudéssemos adivinhar se amanhã o amor do outro estará arrefecido, acionaríamos os nossos mecanismos de recuo enquanto os temos, se é que ainda os temos, pois também eles se volatilizam quando menos esperamos. É todo inquietação o começo do amor. A amiga ensina um “mantra” para acalmar: “seja intenso enquanto dure”. E quando o fantasma da perda perturba a repetição do mantra? Quando o telefone não basta, o torpedo no celular não basta, o e-mail não basta? Resta-nos apelar ao místico poeta: valei-me, São João da Cruz, nessa “doença de amor que só se cura/ com a presença e com a figura”. A ansiedade pela figura fez o bardo Orfeu perder a amada. Para resgatá-la da morte, ele precisava acreditar que ela estava atrás dele, porque isso lhe dissera a deusa dos infernos, mas não podia olhar para trás, tinha de confiar. Mas basta a só impressão da ausência do outro para nos esvaziar, o amor roga contemplação e toque. Ao virar-se para ver sua Eurídice, Orfeu desobedeceu à deusa, e a imagem da amada desapareceu para sempre. Condenaríamos Orfeu? Não, o amor, ainda mais no começo, conjuga o verbo pegar. Então, que amor se chamaria amor, se não ousasse desobediência? Desobediência, risco, incerteza... Ou você ama, ou constrói escapes. Quando nos damos conta, o amor já está cravado como alfinete ou flecha, destilando a insegurança que o mineiro Celso Adolfo tão bem decantou, na canção “Nós dois”: “e nós que nem sabemos quanto nos queremos/ que nem sabemos tudo que queremos/ como é difícil o desejo de amar/ (...) e nós que nem soubemos nos querer de vez/ estamos sós, laçados em dois nós...”

NÁUFRAGO


Eu iria com você, aonde só chega quem não tem medo de naufragar...

MÁSCARAS

“As máscaras são sonhos fixados... Os sonhos são máscaras fugazes em movimento, máscaras fluidas que nascem, representam sua comédia ou seu drama, e morrem.”
Georges Buraud

AMANTES E AMOR


Dois amantes: duas máscaras que se fitam e se vêem uma na outra, dois espelhos. Amor: um amontoado de máscaras.

terça-feira, junho 17

A UM AUSENTE


Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar.

Houve um pacto implícito que você rompeu sem se despedir foi embora.

Detonou o pacto.

Detonou a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade

sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipou a hora.

Seu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.

Que poderia ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si,o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de você ,de nossa convivência em falas camaradas,simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.

Sim, acuso-te porque fez o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem me deixou sequer o direito de indagar porque o fez , porque se foi.

Carlos Drummond de Andrade

ADEUS - EDU LOBO


"...pena eu não saber como te contar


que o amor foi tanto e no entanto eu

queria dizer vem, eu só sei dizer vem

nem que seja só pra dizer Adeus..."

TEMPO PRESENTE - EDU LOBO


Tanto tempo te amei


Tanta chance te dei pra me usar


Tanto te desculpei


Tanto te acostumei a brincar


Quantos anos perdi


Envelheci de amor


E você não mudou


Nunca parou pra pensar


Sempre eu tinha razão


Sempre eu era quem não pode errar


E quem sempre está certo


É o primeiro por certo a cansar


Mas agora as águas vão rolar


E você vai chamar


Vai pedir, procurar


Quando não me encontrar por aqui.

domingo, junho 15

HOMENAGEM A JAMELÃO - + 14/06/2008


Jamelão, pseudônimo de José Bispo Clementino dos Santos (Rio de Janeiro, 12 de maio de 1913 - Rio de Janeiro, 14 de junho de 2008) foi um cantor brasileiro, tradicional intérprete dos sambas-enredo da escola de samba Mangueira.
Em 14 de junho de 2008, Jamelão faleceu devido a falência múltipla de órgãos. Ele estava internado na Casa de Saúde Pinheiro Machado, no Rio de Janeiro. Seu corpo será velado na escola de samba Mangueira, e enterrado no cemitério São João Batista.
Esses moços, pobre moços
Ah se soubessem o que eu sei
Não amavam não passavam
Aquilo que eu já passei
Por meus olhos, por meus sonhos
Por meu sangue, tudo enfim
É que eu peço a esses moços
Que acreditem em mim
Se eles julgam
Que há um lindo futuro
Só o amor
Nesta vida conduz

Saibam que deixam o céu
Por ser escuro
E vão ao inferno
À procura de luz
Eu também tive
Nos meus belos dias
Essa mania que muito me custou
Pois só as mágoas que eu trago hoje em dia
E essas rugas
O amor me deixou
Esses moços, pobre moços
Ah se soubessem o que eu sei

ME ENCANTE - PABLO NERUDA

Me encante da maneira que você quiser, como você souber.

Me encante, para que eu possa me dar...

Me encante nos mínimos detalhes.

Saiba me sorrir: aquele sorriso malicioso,Gostoso, inocente e carente

.Me encante com suas mãos,

Gesticule quando for preciso.

Me toque, quero correr esse risco.Me acarinhe se quiser...

Vou fingir que não entendo,Que nem queria esse momento.

Me encante com seus olhos...

Me olhe profundo, mas só por um segundo.

Depois desvie o seu olhar.Como se o meu olhar,

Não tivesse conseguido te encantar...

E então, volte a me fitar.

Tão profundamente, que eu fique perdido.

Sem saber o que falar...Me encante com suas palavras..

.Me fale dos seus sonhos, dos seus prazeres.

Me conte segredos, sem medos,

E depois me diga o quanto te encantei.

Me encante com serenidade...Mas não se esqueça também,

Que tem que ser com simplicidade,

Não pode haver maldade.

Me encante com uma certa calma,Sem pressa.

Tente entender a minha alma.

Me encante como você fez com o sua primeira namorada...

Sem subterfúgios, sem cálculos, sem dúvidas, com certeza.

Me encante na calada da madrugada,

Na luz do sol ou embaixo da chuva....

Me encante sem dizer nada, ou até dizendo tudo.

Sorrindo ou chorando.

Triste ou alegre...

Mas, me encante de verdade, com vontade...

Que depois, eu te confesso que me apaixonei,

E prometo te encantar por todos os dias...

Pelo resto das nossas vidas!!!

FOGUETE - MARIA BETHANIA

Tantas vezes eu soltei foguete
Imaginando que você já vinha
Ficava cá no meu canto calada
Ouvindo a barulheira
Que a saudade tinha

É como diz João Cabral de Mello Neto
Um galo sozinho não tece uma manhã
Senti na pele a mão do teu afeto
Quando escutei o canto de acauã
A brisa veio feito cana mole
Doce, me roubou um beijo
Flor de querer bem
Tanta lembrança este carinho trouxe
Um beijo vale pelo que contei

Tantas vezes eu soltei foguete
Imaginando que você já vinha
Ficava cá no meu canto calada
Ouvindo a barulheira
Que a saudade tinha

Tirei a renda da nafitalina
Forrei cama, cobri mesa
E fiz uma cortina
Varri a casa com vassoura fina
Armei a rede na varanda
Enfeitada com bonina

Você chegou no amiudar do dia
Eu nunca mais senti tanta alegria
Se eu soubesse soltava foguete
Acendia uma fogueira
E enchia o céu de balão
Nosso amor é tão bonito, tão sincero
Feito festa de São João