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sábado, fevereiro 26



'Livrar-se de uma lembrança é um processo lento, impossível de programar. Ninguém consegue tirar alguém da cabeça na hora que quer, e às vezes a única solução é inverter o jogo: em vez de tentar não pensar na pessoa, esgotar a dor. Permitir-se recordar, chorar, ter saudade. Um dia a ferida cicatriza e você, de tão acostumada com ela, acaba por esquecê-la. Com fórceps é que a criatura não sai.'


[Martha Medeiros]

sexta-feira, fevereiro 25




"E se o que tanto buscas só existe

em tua límpida loucura?

- que importa? -

isso

exatamente isso

é o teu diamante mais puro!"

(Mario Quintana em: Antologia Poética ou Quintana de Bolso)



" Não há lugar para onde correr:

as mudanças, quando precisam acontecer,

sabem como nos encontrar."



Ana Jácomo



" Às vezes eu tenho a impressão de que alguns sorrisos são ondas que começam no coração, brincam de sol nos olhos e, instantaneamente, levam clarão para a boca, para o rosto todo, para a vida inteirinha."


Ana Jácomo
" Amiudam-se as partidas...

Também morremos um pouco

no amargor das despedidas.

Cais deserto,

anoitecemos

enluarados de ausências."

Helena Kolody - Anoitecer


Falta-me tanto tempo neste tempo inteiro

onde não vivo mas finjo mas

iludo e às vezes rio.

tenho tanto tempo

neste limite de um outro tempo

que não chego a deter

minha agonia. minha raiva.

meu desassossego inquieto e lúcido

frio e tépido. meu desencanto persistente

frígido e céptico de ser apenas

um momento.

Isabel Mendes Ferreira



"tenho os olhos cansados

de compreender

em que ponta de pedra

se equilibra a razão.

...

a lua amanhã não estará cheia

e a noite será mais profunda.

todas as coisas têm mais de uma face

MENOS A SAUDADE.

Silvia Chueire

terça-feira, fevereiro 22


]
Tenho um amor fresco e com gosto de chuva e raios e urgências. Tenho um amor que me veio pronto, assim, água que caiu de repente, nuvem que não passa. Me escorrem desejos pelo rosto pelo corpo. Um amor susto. Um amor raio trovão fazendo barulho. Me bagunça. E chove em mim todos os dias."


(Desconheço a autoria)

segunda-feira, fevereiro 21





Todas as vidas gastei

para morrer contigo.

E agora

esfumou-se o tempo

e perdi o teu passo

para além da curva do rio.

Rasguei as cartas.

Em vão: o papel restou intacto.

Só os meus dedos murcharam, decepados.

Queimei as fotos.

Em vão: as imagens restaram incólumes

e só os meus olhos se desfizeram, redondas cinzas.

Com que roupa

vestirei minha alma

agora que já não há domingos?

Quero morrer, não consigo.

Depois de te viver

não há poente

nem o enfim de um fim.

Todas as mortes gastei

para viver contigo.

Mia Couto



O desapego é a faxina

do corpo."



Eu invejo os passarinhos,

todos os passarinhos que se vão para o sul.

Eles não levam bagagem, amores, provisões,

fantasias, saudades.

Apenas cismam e se vão.

Eu, no inverno álgido, fico por aqui mesmo,

jamais pensei em ir para o sul.

Quanta coisa teria que levar!

Os passarinhos, esses, não são materialistas,

deixam tudo o que conquistaram e se esvaem.

Aprenderam o desapego das coisas.

No máximo, carregam algumas plumas felizes

e nos deixam a incrível lição do desejo.



Angel Cabeza - Transcendência

"Quantas vezes esvaziei

os pulmões por entre as

mãos fechadas, numa

incursão obsessiva pelas

minhas características

de voo,



CONFESSO-O AO VENTO

QUE VEM PARA SE COBRAR."



Valter Hugo Mãe
Me encante da maneira que você quiser, como você souber.


Me encante, para que eu possa me dar...



Me encante nos mínimos detalhes.

Saiba me sorrir: aquele sorriso malicioso,

Gostoso, inocente e carente.



Me encante com suas mãos,

Gesticule quando for preciso.

Me toque, quero correr esse risco.

Me acarinhe se quiser...

Vou fingir que não entendo,

Que nem queria esse momento.



Me encante com seus olhos...

Me olhe profundo, mas só por um segundo.

Depois desvie o seu olhar.

Como se o meu olhar,

Não tivesse conseguido te encantar...



E então, volte a me fitar.

Tão profundamente, que eu fique perdido.

Sem saber o que falar...



Me encante com suas palavras...

Me fale dos seus sonhos, dos seus prazeres.

Me conte segredos, sem medos,

E depois me diga o quanto te encantei.



Me encante com serenidade...

Mas não se esqueça também,

Que tem que ser com simplicidade,

Não pode haver maldade.



Me encante com uma certa calma,

Sem pressa. Tente entender a minha alma.



Me encante como você fez com o seu primeiro namorado...

Sem subterfúgios, sem cálculos, sem dúvidas, com certeza.



Me encante na calada da madrugada,

Na luz do sol ou embaixo da chuva....



Me encante sem dizer nada, ou até dizendo tudo.

Sorrindo ou chorando. Triste ou alegre...

Mas, me encante de verdade, com vontade...



Que depois, eu te confesso que me apaixonei,

E prometo te encantar por todos os dias...

Pelo resto das nossas vidas!



(Pablo Neruda)

Eu realmente acreditava que o que me fazia amar um homem era a inteligência.


Conhecimentos literários, artísticos, práticos seduziam a eterna adolescente em mim.

Mas descobri que não era isso que me fazia amar: de nada adianta um cérebro invejável, citações brilhantes, se ele não rir dos próprios erros, se não souber aproveitar as delícias do ócio de um sábado quente.

Então percebi: bom humor era essencial.

É delicioso estar com alguém que vive sem arrastar correntes e faz dos pequenos problemas do dia a dia inevitáveis piadas.

Só que nem tudo é uma piada e, em certas horas, quero alguém que me conforte a alma.

Nesses momentos, nada pior do que ser levada na brincadeira - existe uma imensa diferença entre a alegria de viver e a recusa a sair da infância.

Então fui invadida pela certeza de que o que me fazia amar alguém era, antes de tudo, a sensibilidade.

Alguém com sangue quente e correndo nas veias...alguém que não tenha vergonha nem medo de chorar, de pedir desculpas, de reconhecer que pode errar...um homem que se emocione, que demonstre publicamente amor , que me admire, que seja amigo, cúmplice e fiel...principalmente fiel à ELE mesmo...e às suas atitudes...um homem que FALE e FAÇA...simples assim.

Telefonemas de bom-dia, olhares que vêem, pequenos gestos incontidos - tudo o que eu podia querer...

Ou quase.

Só sobrevive ao meu lado alguém que me sinalize quando eu passar dos limites do bom senso, demonstre desagrado quando eu exigir demais e oferecer de menos. Um homem de ATITUDES.

Preciso ser cuidada, mas preciso da certeza de estar com um homem de verdade e não com um moleque preso no complexo de Peter Pan.

Quero ser domada, tomada , conduzida...necessito me sentir 100% mulher...quero um HOMEM que faça com que eu aposente meu "lado homem"...

Nem inteligência, bom humor ou sensibilidade me faziam amar alguém.

Talvez fosse virilidade.

Mal abrir a porta da sala e ser consumida por beijos.

Ter a roupa arrancada no caminho da cozinha.

Ser desejada com urgência é um dos maiores elogios que uma mulher pode receber, mas só ser desejada de nada adianta: quando acaba o suadouro, o que resta?

Se o que interessa é a movimentação, tudo bem.

Mas se existe a possibilidade de ser esmagada pelo vazio do sentido após o orgasmo, de nada vale...

Pelo menos se não vier acompanhado de cuidado, carinho.

Pensei, então, que ele seria a pedra fundamental para despertar meu amor.

Mas carinho é um sentimento abrangente demais: nos invade desde a visão de um cãozinho abandonado até a palavra confortadora de um desconhecido.

Um dia, cansei de tentar adivinhar.

E, nesse dia, após tantas enumerações paralisantes e neuróticas, descobri...

Hoje sei exatamente o que me faz amar um homem: O AMOR EXISTIR.

Quando é necessário justificá-lo, procurá-lo, racionalizá-lo, é sinal de que ele não está ali.

Simples assim.

E se ele não está ali...na verdade...é por que NUNCA ESTEVE...então...este não serve para mim..."