"A vida é igual garimpo. Não se percebe o diamante numa primeira olhada. Por ser muito parecido com o cascalho, corre o risco de ser jogado fora. Cascalhos e diamantes se parecem. A única diferença é que o diamante esconde o brilho sob as cascas que o revestem. É preciso lapidar. Pessoas são como diamantes. Corremos o risco de jogá-las fora só porque não tivemos a disposição de olhá-las para além de suas cascas. E então, desperdiçamos grandes riquezas no exercício de alimentar pobrezas."
(Pe. Fábio de Melo)
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sábado, julho 31
Rasga as bordas da saia, e anda. A vida , por vezes, dança, tão nua, entre filós. E muda. Dos passos: caminha de costas pro tempo, escasso. Ramo de trigo entre os seios pra lembrar do que farta. Faz promessas em dia de lua, cheia. Faz colar de lentilhas. Borda de azul a saia branca, esse desejo de ter oceano nas ancas. Flores do campo nas mãos, passos firmes e lentos. Trovões rasgam o véu do tempo. Presentes passado e futuro. Relógio de sol. Im-pulsos. Risca em vermelhos e laranjas a parede branca descascada. Põe fogo-artifício sobre lençóis. Depois improvisa com bambus uma cruz. Acentua sobre as cinzas, as flores. Traça o sinal-da-cruz na fronte. Quarta-feira, cinzas. E lembra que sempre é possível re-começar. Nas mãos: nada, desejos: alguns de alma, e ela escreve areia ao redor das ruínas. Ergue um templo de palavras, sacras. Faz preces. Tece apreços. Lembra sem pudor até inflamar os olhos. Vibra a alma em sol sustenido com sétima. Não traça caminhos, só ascende às estrelas. E espera. O ano rebenta o tempo para deixar sua marca. E ela demarca em seus braços um tempo que não há de passar. Jamais."
(Cecília Braga)
"Gosto das perdas que me tiram tudo. Pra sentar em mim, olhar ao redor, e ficar. Até redescobrir em mim força e possibilidades de recomeçar. Tudo que vivi já me ampliou os vãos de dentro, e tanto, que me sinto tão menor em mim. Mas, com espaços para crescer. Silêncio. Tudo que quero dizer está na ponta dos dedos."
(Cecília Braga)
"Quero dispor da vida que ainda me resta pra te apreender, sem jamais te saber conhecido.(...) A música em mim tem ritmo hindu.
O tempo se conta no piscar dos olhos, na batida do coração.
Vem, que meus olhos nos seus tem duração de presença. E fica.
Pra minha poesia ganhar vida em teu corpo."
(Cecília Braga)
Ne Me Quitte Pas
Maysa
Não me deixes,
É preciso esquecer,
Tudo se pode esquecer
Que já para trás ficou.
Esquecer o tempo
dos mal-entendidos
E o tempo perdido
a querer saber como
Esquecer essas horas,
Que às vezes matam,
A golpes de porque,
o coração de felicidade.
Não me deixes,
Não me deixes,
Não me deixes,
Não me deixes.
Te oferecerei
Pérolas de chuva
Vindas de países
Onde não chove;
Escavarei a terra
Até depois da morte,
Para cobrir teu corpo
Com ouro, com luzes.
Criarei um país
Onde o amor será rei,
Onde o amor será lei
E você a rainha.
Não me deixes,
Não me deixes,
Não me deixes,
Não me deixes.
Não me deixes
Te Inventarei
Palavras absurdas
Que você compreenderá;
Te falarei
Daqueles amantes
Que viram de novo
Seus corações atados;
Te contarei
A história daquele rei,
Que morreu por não ter
Podido te conhecer.
Não me deixes,
Não me deixes,
Não me deixes,
Não me deixes.
Quantas vezes não se
reacendeu o fogo
Do antigo vulcão
Que julgávamos muito velho
Até há quem fale
De terras queimadas
A produzir mais trigo;
Que a melhor primavera
E quando a tarde cai,
Para que o céu se inflame.
O vermelho e o negro
Não se misturam
Não me deixes,
Não me deixes,
Não me deixes,
Não me deixes,
Não me deixes.
Não vou mais chorar,
Não vou mais falar,
Escondo-me aqui
Para te ver
Dançar e sorrir,
Para te ouvir
Cantar e rir.
Deixe que eu me torne
a sombra da tua sombra,
A sombra da tua mão,
A sombra do teu cão.
Não me deixes,
Não me deixes,
Não me deixes,
Não me deixes.
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