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terça-feira, junho 17

A UM AUSENTE


Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar.

Houve um pacto implícito que você rompeu sem se despedir foi embora.

Detonou o pacto.

Detonou a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade

sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipou a hora.

Seu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.

Que poderia ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si,o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de você ,de nossa convivência em falas camaradas,simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.

Sim, acuso-te porque fez o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem me deixou sequer o direito de indagar porque o fez , porque se foi.

Carlos Drummond de Andrade

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